Há um gurizito que chegou de fora
Que a mãe envolve num ponchito gris
Encarangado, treme o queixo e diz
-Mãe, o gateado tá esperando a boia
-Debulho um milho e já volto já
Antes que o dia se me vá embora
Há um outro piá que levantou com os galos
E se enfurnou na cerração fechada
Punhais de gelo, pés sentindo a geada
Procura vultos pra encontrar cavalos
Enfrena, salta, se abraça ao pescoço
E se agasalha com o calor do baio
E se agasalha com o calor do baio
Num fim de junho, de adoçar laranjas
Há que cruzar um gado no arroio
De poncho fino que encharcou as franjas
E voz gelada pra gritar o aboio
Outro guri vem levantando um mouro
Que nada, bufa e arregala o olho
Outro guri vem levantando um mouro
Que nada, bufa e arregala o olho
O frio é um velho cruzador de campo
O frio é um velho alambrador de mundo
Cercou o tempo e o parou, profundo
Na nossa alma, onde neva tanto
O Sul e o Frio, são hora e segundo
De algum ponteiro que perdeu o tranco
De algum ponteiro que perdeu o tranco
Ficou marcado esse rigor antigo
Tocando o rosto e coração da gente
E por mais frio a alma será quente
Como a lembrança do melhor amigo
Por onde eu ande, Velho Continente
Tua pele fria me dará abrigo
Por onde eu ande, Velho Continente
Tua pele fria me dará abrigo
Tua pele fria me dará abrigo
